Nas terras férteis das proximidades da antiga estação ferroviária de Montenegro, havia uma fazenda imensa, conhecida não apenas por sua vastidão, mas também pela fortuna acumulada por seu dono. Um homem trabalhador e prudente, o fazendeiro era de natureza reservada e confiava apenas em um ser no mundo: seu majestoso cavalo branco. Era um animal imponente, de crina sedosa e olhar inteligente, que parecia entender cada pensamento do seu dono.
Certo dia, o fazendeiro precisou fazer uma longa viagem. Sentia, porém, um aperto no coração, preocupado com a possibilidade de sua fortuna atrair ladrões na sua ausência. Foi então que tomou uma decisão incomum: colocou toda a sua riqueza – moedas de ouro, joias e documentos de valor – em uma grande caixa de madeira reforçada. Montado em seu fiel cavalo branco, cavalgou até uma velha figueira, localizada nos arredores da atual RS 287, perto da Avenida Júlio Renner. Ali, sob as raízes profundas da figueira, enterrou o tesouro. Antes de partir, olhou nos olhos do cavalo e, como se ambos compartilhassem um pacto silencioso, deixou o animal como guardião do segredo.
O fazendeiro partiu, mas nunca mais voltou. O que aconteceu com ele é um mistério que o tempo jamais esclareceu. Seria vítima de um infortúnio ou teria decidido nunca mais retornar? Ninguém sabe. O que se sabe é que o cavalo permaneceu ali, ao lado da figueira, recusando-se a abandonar seu posto. Por dias, meses e até anos, o nobre animal vigiou o local com dedicação inabalável, até que, finalmente, a vida o deixou. Porém, mesmo na morte, seu espírito parece ter recusado o descanso.
Moradores da região contam que o Cavalo Branco continua sua vigília até hoje, protegendo o tesouro do antigo fazendeiro com um zelo feroz. Dizem que, ao cair da noite, especialmente nas sextas-feiras, quando o silêncio se torna quase palpável, o espírito do cavalo se manifesta. Ele aparece na penumbra, suas formas translúcidas se movendo entre as raízes da figueira, como se ainda estivesse esperando pelo retorno de seu dono.
Aqueles que tentaram se aproximar da figueira em busca do tesouro contam histórias aterradoras. Não são poucos os relatos de sons de relinchos furiosos, cascos batendo no chão com força descomunal, e até mesmo visões do animal investindo contra intrusos com coices letais. Muitos voltam aterrorizados, jurando nunca mais se aproximar do local.
Alguns o chamam de Cavalo Imortal, pois acreditam que sua alma jamais descansará enquanto o tesouro estiver enterrado e o destino de seu dono permanecer desconhecido. Há até quem diga que, à meia-noite, após a última badalada, é possível ver sua figura luminosa em meio à escuridão, trotando lentamente ao redor da figueira, como se fizesse sua ronda eterna.
Assim, a história do Cavalo Imortal persiste, passando de geração em geração, um lembrete de que nem a morte pode quebrar os laços de lealdade. E para os curiosos que cogitam desafiar o guardião espectral, o aviso é claro: respeite o descanso da figueira e do seu cavaleiro silencioso. Pois quem tenta roubar o que não lhe pertence pode acabar enfrentando a ira de um guardião que transcende o tempo.