Nas trilhas que conduzem ao Morro da Mariazinha, existe uma lagoa envolta em mistérios e temores. Dizem os antigos que suas águas profundas guardam segredos tão velhos quanto a própria terra, e suas margens, ao cair da tarde, ganham a visita de figuras estranhas. Altivos e silenciosos, pescadores espectrais aparecem, movendo-se como sombras, suas silhuetas refletidas nas águas calmas.
A cena é sempre a mesma: os homens retiram inúmeros peixes da lagoa, depositando-os na margem com uma precisão quase hipnótica. Mas o que chama atenção é sua desconexão com o mundo ao redor. Não respondem aos chamados, não trocam olhares com quem os observa, como se não estivessem presentes na mesma realidade. Para os poucos corajosos que ousaram desafiar o interdito e lançar suas linhas nas águas sagradas, o resultado é frustrante: nenhum peixe, nenhuma mordida, apenas o silêncio esmagador da lagoa.
Conta-se que esses pescadores não são gente viva, mas fantasmas. Almas antigas, talvez de outros tempos, talvez vítimas da própria lagoa, que agora a protegem com zelo inabalável. Quem se atreve a perturbar as águas ou a pescaria deles, dizem, paga um preço alto. Há histórias de redes rasgadas misteriosamente, de ventos repentinos que arrancam varas das mãos e até de sensações inexplicáveis de pavor que fazem os intrusos fugirem sem olhar para trás.
Outro aspecto curioso é a profundidade da lagoa. Segundo os moradores mais antigos da região, ninguém nunca conseguiu encontrar seu fundo. Até mesmo os pescadores locais evitam explorar a área, afirmando que ela não é “normal”. Para muitos, o abismo aquático é mais do que físico; é também espiritual, um portal para o desconhecido.
Os que desrespeitam a lagoa e poluem suas águas relatam visões aterradoras. Silhuetas espectrais emergem das sombras das árvores, cercando os intrusos com uma presença opressora. Alguns descrevem sons de murmúrios vindos da água, enquanto outros juram ter visto os próprios fantasmas lançarem pedras na direção dos desordeiros.
E assim, a fama da Lagoa Sem Fundo cresce, mantendo afastados os curiosos e reforçando seu status como mais um dos enigmas do Morro da Mariazinha. Para os que passam por suas margens, o conselho é simples: admire de longe, respeite o silêncio e jamais tente pescar onde os espectrais já estão. Afinal, como diz o ditado: "Quem desrespeita os mortos, nada de bom colhe dos vivos."