Tudo teria começado com um sonho. Um homem, inspirado por visões de riquezas escondidas, reuniu amigos e ferramentas — pás, lampiões e coragem — para desenterrar o que acreditavam ser o achado de suas vidas. A empolgação tomou conta do grupo quando começaram a cavar, guiados por um pressentimento. Mas a animação logo deu lugar ao terror.
No momento em que o buraco ganhava profundidade e o cansaço começava a pesar, algo inexplicável aconteceu. Surgindo das sombras, uma criatura descomunal apareceu na beira da escavação. Era um ser grotesco, uma mistura de cão e cavalo, com olhos que pareciam perfurar a alma. O grupo, tomado pelo pavor, largou tudo e fugiu, cada um para uma direção diferente. O "guardião", como foi apelidado, disparou pelo campo, arrebentando cercas em sua fúria. Depois disso, ninguém teve coragem de voltar ao local.
Mas a história não para por aí. Os mais velhos da região garantem que o sobrenatural ronda não só aquele pedaço de terra, mas todo o interior de Montenegro. Lobisomens, dizem eles, vagueiam nas noites escuras, especialmente às sextas-feiras. Alguns contam ter visto um enorme porco invadir um baile e atacar os participantes; outros descrevem um bicho peludo, com dentes afiados, que suga o sangue do gado, deixando o rastro do medo.
E há ainda os mistérios do arroio do Gil. Por ali, os moradores falam de um terneiro manso que aparece repentinamente, apenas para desaparecer quando alguém tenta se aproximar. Para os antigos, não há dúvidas: trata-se de outra manifestação do lobisomem. Aqueles que têm o azar de encontrá-lo, dizem, definham lentamente até a morte.
Essas histórias, transmitidas de geração em geração, misturam mistério, temor e fascínio. Seriam apenas "causos" para assustar os desavisados? Ou há algo de verdadeiro nessas narrativas? O certo é que, entre o tesouro escondido e os relatos de criaturas sobrenaturais, o imaginário local se mantém vivo, fazendo de Montenegro e seus arredores um lugar repleto de lendas que continuam a inspirar respeito e curiosidade.
Seja qual for a resposta, uma coisa é certa: para quem ousa explorar esses mistérios, o maior tesouro talvez seja a coragem de enfrentar o desconhecido.